E a montanha pariu
Sávio Hackradt é jornalista e consultor político
Sexta-feira (17/05/24) completou 15 dias que o prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), depois de marchas e contramarchas, anunciou o seu apoio ao deputado federal Paulinho Freire (União Brasil) como candidato à sua sucessão. Foi longo o parto do prefeito para anunciar a sua decisão. Durante todo o ano de 2023 e até março deste ano, ensaiou várias pré-candidaturas, lançando balões de ensaio com nomes do seu secretariado, até se fixar no nome da secretária de planejamento do município, Joana Guerra. Ao final do parto, terminou sendo ela a sua indicada para compor a chapa como candidata a vice-prefeita de Natal, ao lado de Paulinho Freire.
Em todo o período do processo de gestação do candidato preferido de Álvaro Dias, nenhum dos nomes cogitados chegou a romper os 3% de intenções de votos, nas pesquisas divulgadas de fevereiro de 2023 a abril de 2024. O caso de Joana Guerra é o mais emblemático, pois o prefeito a colocou debaixo do braço e saiu pelos bairros da cidade, apresentando-a como sua candidata. Abriu espaço na propaganda partidária do seu partido, no rádio, na televisão e nas redes sociais, como forma de impulsioná-la junto ao eleitorado natalense. Mesmo assim, Joana Guerra não ultrapassou 3% de intenções de voto nas pesquisas. Sem um nome no bolso do seu colete para o suceder na prefeitura de Natal, só restou a Alvaro Dias se render a uma candidatura já posta. Durante os últimos dois meses, ele balançou na corda bamba entre apoiar Carlos Eduardo (PSD) ou Paulinho Freire (União Brasil). Terminou apoiando Paulinho Freire e indicou Joana Guerra como vice para compor a chapa.
O cenário sucessório está se consolidando em termos de composições políticas, com o acordão que se fez em torno da candidatura de Paulinho Freire (União Brasil). Falta agora a candidata do PT, deputada federal Natália Bonavides, definir quem vai ocupar a vice-prefeitura e também o ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo (PSD), definir a composição de sua chapa, o que deverá ocorrer nos próximos 45 dias. Até lá haverá muita especulação sobre quem vai ser vice de Carlos e/ou de Natália que, nessa altura do campeonato, já devem ter os nomes preferidos, mas talvez não os anunciem logo. Coisas do jogo do xadrez político.
As questões que se colocam agora são: o que fará Álvaro Dias para alavancar a candidatura do seu preferido, que até a última pesquisa divulgada continuava na terceira posição, atrás da deputada federal Natália Bonavides (PT), e muito atrás do líder das pesquisas, Carlos Eduardo (PSD)? É Álvaro Dias um líder popular das massas em Natal, capaz de transferir milhares de votos para Paulinho Freire? Nesses seis anos como prefeito, Álvaro Dias construiu uma liderança tão forte em Natal, capaz de definir os rumos de uma eleição na capital do estado?
Poderá Alvaro Dias levar Paulinho Freire a vitória? As próximas pesquisas eleitorais vão medir a força da liderança e o poder de transferência de votos de Álvaro Dias para Paulinho Freire. O fato concreto, medido nas pesquisas de fevereiro de 2023 a abril de 2024, é que Álvaro Dias não transferiu a força eleitoral que imagina ter para os seus pré-candidatos a prefeito, em especial para Joana Guerra.
O fabulista grego Esopo escreveu "O Parto da Montanha", uma pequena história onde uma montanha começa a fazer um barulho estrondoso, por um longo tempo, gerando expectativas sobre o que iria ocorrer, atraindo pessoas de todos os lugares para assistir o desfecho da situação. Um belo dia o barulho ficou fortíssimo, a montanha tremeu toda e depois rachou, num rugido de arrepiar os cabelos. De repente, do meio do pó e do barulho, apareceu ... um rato.
Só o tempo dirá se a montanha pariu um leão ou um rato.