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Opinião

Guerras pelo mundo e a colheita da insensatez; leia opinião de Erick Pereira


Reprodução: internet

Erick Pereira
04/11/2023 | 05:00

Persistimos vivendo tempos de guerras regionais, seus açodamentos e efeitos colaterais, riscos de escalada e desfecho em catástrofe humanitária de grandes proporções. Os sinais mais evidentes da insensatez são atos medonhos de invadir território para torturar, abater e capturar civis; destruir suas moradias, hospitais e templos; bombardear campos de refugiados e postergar as urgências de ajudas humanitárias; empreender disputas na arena global da opinião pública.

A posteriori, os eventos que antecederam as guerras só fazem sentido quando esclarecidas as jornadas dos principais tomadores de decisão, quando recapituladas as crises internacionais que precederam o início dos conflitos e suas narrativas que estruturaram percepções e motivaram comportamentos arriscados.

São fatos incontestáveis, na crise de 1914, na invasão da Ucrânia pela Rússia, ou no conflito Hamas e Israel: a ambiguidade, a difusão de poderes, as alianças instáveis e a multiplicidade de interesses que permeiam os antagonistas geram uma variedade estarrecedora de interpretações. Por trás do evento precipitante, pode estar desde um único acontecimento com poder de alterar irreversivelmente os rumos das políticas tradicionais, até uma organização terrorista religiosa dispersa em células extraterritoriais.

Ao longo da história das guerras, as avaliações dos riscos seguem minimizadas e a cegueira para as consequências viscerais do mal persiste inalterada. Quando a humanidade mais se impressionou com sua própria desumanidade? Nos dias de hoje, auge da "sociedade do espetáculo", em que expressões – "reduzir danos", "produção de alvos confiáveis" e "pausa dos combates" – se contrapõem a imagens das piores atrocidades; de paisagens lunares com crateras onde antes existiam aglomerados de edificações; de escombros que deixam emergir pedaços de corpos humanos; de mortalhas brancas perfiladas; da correria de seres desesperados e desesperançados carregando seus feridos ou mortos aos hospitais abarrotados; da crueldade das execuções à queima-roupa de uma multidão de jovens indefesos; da tomada de reféns como garantia de execução de futuras trocas. Causar terror, expressar revolta hedionda, urdir a aniquilação de um Estado. Ou, suscitar no outro vingança, fúria, respostas desarrazoadas e, também, hediondas.

Desde quando estamos comprometidos com a violência? A sociedade, mais que espetáculo, é uma triste realidade de menosprezo da humanidade. Apesar da enxurrada de imagens e relatos que diariamente inundam nossos olhos através da TV, jornais e redes sociais, somos assaltados por autoenganos: acreditamos que conhecemos a história de certos contextos, mas é com dificuldade que refletimos sobre eles. Susan Sontag, após a sua cobertura do conflito de Saravejo, observou que mesmo pessoas que acompanhavam o noticiário de perto entendiam pouco sobre a guerra – "Percebi que não havia substituto para a experiência". Ninguém sai ileso ao ver o horror de perto, a colheita da insensatez.

*Erick Pereira é professor e advogado

postado originalmente em: AgoraRN




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